Frederick Perls em Ego, fome e agressão (2002), enfatiza a concepção central da teoria organísmica. O esforço do organismo pela manutenção do equilíbrio, que se altera conforme às mudanças do meio em que vive e suas necessidades internas. A luta pelo equilíbrio, é recuperada pela satisfação e na eliminação momentânea de alguma urgência fisiológica. Além das questões físicas, os seres humanos operam para buscar a satisfação em outras frentes da vida, dos relacionamentos, no trabalho, nos conhecimentos, e em muitas outras que empregam sentido a sua vida. E estão comumente direcionados por gostos e permissões culturais.
Existem diversas formas que podemos procurar para nos satisfazer. Às necessidades primárias, quando não estamos em alguma situação de privação, serão facilmente obtidas. Entretanto, outros empenhos são construções de sentido direcionados por nossas experiências, e que podem ou não serem satisfeitas nas nossas relações eu-outro-mundo.
Desta forma, a luta por uma vida mais satisfeita, está para além da manifestação de suas necessidades mais básicas. Vivemos em um mundo onde a nossa cultura nos direciona a procurar por realizar e satisfazer nossas vidas, de maneiras muito específicas, ainda que não tomemos a consciência exata do porquê fazemos o que fazemos ou como, para atingir a satisfação. Há assim, um desencontro com o que por vezes sentimos que "deveria ser," e tal questão se transforma em frustração e angústia.
Ainda que a frustração temporária, conforme Perls afirma, é importante para a diferenciação da satisfação. Se não sabemos diferenciar o bom estado de um outro não tão bom, não vamos ter parâmetros sobre o que é de fato satisfatório, e torna-se menos interessante para o organismo a nossa falta de percepção das diferenças.
A depender do nosso nível de satisfação com nossas possibilidades de escolhas, e as consequências destas, vamos nos sentir mais ou menos contentes com o que viemos construindo em nossas vidas. Claramente, isto irá depender do momento de vida, e do nosso grau de consciência. A neurose pela incapacidade de atingir a satisfação é, possivelmente, a aflição mais comum. Neste sentido, operam também às defesas neuróticas pelas restrições culturais de determinadas satisfações, que vão de encontro com os ideias ou as “deverias” que nossa mente e nosso self apresenta.
O caminho que a psicoterapia oferece é o de questionar nossas percepções, para a compreensão de uma vida mais satisfeita e contente com nossas escolhas, mais despertas sobre o que buscamos, mais coerentes com o nosso organismo, na direção de buscar compreender quais experiências possibilitam tornar a nossa vida mais satisfatória.