Ações inacabadas e Burnout. A exaustão e o esgotamento como sintomas
- Jéssica Laube de Andrade Lima
- 30 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
A palavra é de origem inglesa, mas sua manifestação parece ser global. Com a tradução a palavra se aproxima do significado de exaustão, ou ainda, esgotamento, que ocorre por condições ocupacionais. O fenômeno ganha cada vez mais atenção no mundo corporativo, pois frequentemente seus sintomas podem ocorrer nos colaboradores, mas a situação também está presente em outras áreas, onde os profissionais estão expostos aos altos níveis de estresse. Seja pelo volume de trabalho exagerado, seja por situações de assédio moral, e devido também à autocobrança de desempenho, pelos padrões de desenvolvimento validados na sociedade, ou por metas pessoais confluentes com o meio.

Assim, embora também podemos chamar a responsabilidade do neoliberalismo que coloca o homem para desempenhar suas funções como se fosse máquina, o máximo de produtividade possível, pelo menor prazo possível, maximização do desempenho dos nossos “processadores internos". Por outro lado, está a própria pessoa que muitas vezes se coloca frente a inúmeras tarefas e se vê impossibilitada de concluir.
As ações inacabadas, como são chamadas na psicoterapia da Gestalt, possuem esse potencial de dispersão de energia. É simples se pensarmos no próprio funcionamento de uma máquina, que também possui seus limites. Afinal, quanto mais abas de um computador abertas, mais lento pode ser o seu processamento. Da mesma forma, se não iniciamos, executamos e finalizamos e deixamos muitas coisas em aberto, o nosso organismo irá se desgastar mais, podendo levar ao Burnout.
De maneira simplificada, isso também ocorre quando estamos precisando tomar decisões importantes, quando divididos entre as opções, nossa energia e empenho ficam deslocados, e nos sentimos menos satisfeitos e energizados.

Aquilo que não resolvemos, fica em aberto, nossa ação se tornará mais vacilante e menos eficaz; Para além do desgaste físico provocado pelo acúmulo de funções, está o desconforto enlouquecedor de nunca conseguir ver o final daquilo que estamos fazendo. A alienação do trabalhador em ver o fruto de seu trabalho, dobrando-se sempre as metas e tornando irreais as expectativas de dever; interrompem o ciclo natural de nossa recuperação de energia, necessária antes da nossa próxima mobilização.
Ao não finalizarmos nossas demandas, com muitas ações inacabadas, corpo e mente não podem se sentir plenamente satisfeitos e integrados e repousados, caracterizando o Burnout, como mencionado no inicio do texto. Ou seja, a não finalização de um ciclo, partindo para o próximo, piora e cronifica situação. Quanto maior for o número de tarefas e ações inacabadas que acumulamos durante a vida, aqui se incluem tantos às questões de âmbito ocupacional quanto às de cunho privado e das nossas relações, maiores serão as chances de nos sentirmos esgotados. Podendo chegar ao ponto de necessário afastamento das nossas atividades.

Perls (2002) trouxe em seu livro um exemplo: "Todo dia este homem precisava lidar com uma série de problemas e sua ambição levava-o a se envolver com muitas coisas diferentes no mesmo dia. Os problemas inacabados iam para cama com ele, resultando em repouso insuficiente e a começar o dia seguinte cansado. A fadiga diminuía sua habilidade para enfrentar os problemas do dia seguinte iniciando um círculo vicioso, com o resultado de que, em poucos meses, ele sofreu um esgotamento nervoso que o afastou completamente do trabalho."
Apesar disso, nem tudo estará perdido, se reconhecermos a nossa responsabilidade por defender o nosso bem mais precioso, a nossa saúde mental e física, e buscar por ajuda profissional antes que se inicie um quadro ainda mais complicado. Na terapia é possível trabalhar com os significados que a pessoa construiu na sua identidade, ao longo da vida, e as experiências que facilitaram que ela esteja em uma situação de adoecimento.
Burnout; ações inacabadas; exaustão; esgotamento;