As dicas podem parecer como uma boa solução quando procuramos resolver algo de uma maneira prática e rápida. Na internet, com o pouco tempo das publicações, o formato “veja 5 dicas”; “10 maneiras de”; “3 coisas fundamentais para”; entre outros semelhantes, parecem tentadores para o usuário que não quer perder muito tempo para encontrar melhores formas de fazer ou viver a sua própria vida.
Basta entrar nas redes sociais e se deparar com uma infinidade de informações a respeito de como aumentar a produtividade, formas de comunicação, dicas de como driblar os sintomas do transtorno X ou Y, melhorar a atenção, focar nos estudos, superar o medo de algo. Para cada dificuldade humana, podemos pesquisar na rede, que vamos achar o passo a passo até a suposta resolução. Somos seres que gostamos de resolver as coisas, e faz parte da nossa vida contemporânea buscar por isso. No entanto, é recomendado ter cautela, antes de sairmos confiando nas respostas prontas.
Na parte mais filosófica da questão, uma ótima reflexão da psicanalista e jornalista Maria Rita Kelh nos ajuda a pensar de onde vem este impulso para o que é instantâneo. De maneira simplificada, a nossa maneira de perceber o tempo está cada vez mais acelerada, e que essa aceleração vem do modo de produzir na nossa sociedade, que demanda mais e mais produção em quanto menos tempo melhor. O acúmulo de informação passa a ser algo desejoso, para além da verdadeira compreensão. O problema pode ser que ao estarmos constantemente acelerados, não notamos muitas coisas ao nosso redor acontecendo, e nem com nós mesmos.
As dicas que lemos passam a ser mais um conteúdo consumido ao longo do nosso dia, mais uma informação para acumular, e o momento da ansiedade chega com mais um “deveria ser assim” e não de outra maneira. Esse lugar que ainda não conseguimos alcançar, mas estamos correndo atrás, tal como o coelho de Alice no País das Maravilhas. Sempre preocupados com o tempo. Por exemplo, se eu seguir essa dica maravilhosa de preencher em uma lista de afazeres com ordem de prioridade e colocar um timer para desempenhar minhas tarefas eu vou conseguir chegar ao final do dia com tudo concluído não é mesmo? E porque sabendo disso ainda assim nem sempre o faço?
Acontece que as dicas podem ser as melhores possíveis, entretanto, se não houver um espaço para aquela dica, orientação ou conselho de fato fazer sentido com aquilo que queremos, e apenas com os “deverias” da vida, podemos acabar no ciclo vicioso de tarefas para concluir tarefas que ainda assim eu não consigo por em prática.
Ou a nossa sensação de não conseguir seguir nem as simples dicas básicas de internet para ajudar a resolver nossos problemas. O que acaba por aumentar a nossa ansiedade.
Mas como resolver o problema? Pode ser um começo resistir a tentação da sensação de resoluções rápidas, dos conselhos e reflexões genéricas e partir para algo que ainda que seja mais trabalhoso, como o processo de autoconhecimento, traz benefícios de longo prazo. Cada pessoa possui uma história de vida única, suas experiências e suas percepções sobre a vida são diferentes, e é no processo de autoconhecimento que podemos de fato aprender o que faz mais sentido para nossa experiência e para aquilo em que buscamos. Já adiantando, que, infelizmente, para nossa vida em aceleração, esse processo não é rápido nem é simples ou prático, mas é uma aposta de efeitos mais duradouros.