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Foto do escritorJéssica Laube de Andrade Lima

Atenção com as dicas de internet

As dicas podem parecer como uma boa solução quando procuramos resolver algo de uma maneira prática e rápida. Na internet, com o pouco tempo das publicações, o formato “veja 5 dicas”; “10 maneiras de”; “3 coisas fundamentais para”; entre outros semelhantes, parecem tentadores para o usuário que não quer perder muito tempo para encontrar melhores formas de fazer ou viver a sua própria vida.

dedo indo a tela de um dispositivo eletrônico e ícones saltam

Basta entrar nas redes sociais e se deparar com uma infinidade de informações a respeito de como aumentar a produtividade, formas de comunicação, dicas de como driblar os sintomas do transtorno X ou Y, melhorar a atenção, focar nos estudos, superar o medo de algo. Para cada dificuldade humana, podemos pesquisar na rede, que vamos achar o passo a passo até a suposta resolução. Somos seres que gostamos de resolver as coisas, e faz parte da nossa vida contemporânea buscar por isso. No entanto, é recomendado ter cautela, antes de sairmos confiando nas respostas prontas.

Pessoa ajustando display de relógio smart

Na parte mais filosófica da questão, uma ótima reflexão da psicanalista e jornalista Maria Rita Kelh nos ajuda a pensar de onde vem este impulso para o que é instantâneo. De maneira simplificada, a nossa maneira de perceber o tempo está cada vez mais acelerada, e que essa aceleração vem do modo de produzir na nossa sociedade, que demanda mais e mais produção em quanto menos tempo melhor. O acúmulo de informação passa a ser algo desejoso, para além da verdadeira compreensão.  O problema pode ser que ao estarmos constantemente acelerados, não notamos muitas coisas ao nosso redor acontecendo, e nem com nós mesmos.

As dicas que lemos passam a ser mais um conteúdo consumido ao longo do nosso dia, mais uma informação para acumular, e o momento da ansiedade chega com mais um “deveria ser assim” e não de outra maneira. Esse lugar que ainda não conseguimos alcançar, mas estamos correndo atrás, tal como o coelho de Alice no País das Maravilhas. Sempre preocupados com o tempo. Por exemplo, se eu seguir essa dica maravilhosa de preencher em uma lista de afazeres com ordem de prioridade e colocar um timer para desempenhar minhas tarefas eu vou conseguir chegar ao final do dia com tudo concluído não é mesmo? E porque sabendo disso ainda assim nem sempre o faço?

mulher sentada no chão com duas mãos no peito e cabeça abaixada

Acontece que as dicas podem ser as melhores possíveis, entretanto, se não houver um espaço para aquela dica, orientação ou conselho de fato fazer sentido com aquilo que queremos, e apenas com os “deverias” da vida, podemos acabar no ciclo vicioso de tarefas para concluir tarefas que ainda assim eu não consigo por em prática.

Ou a nossa sensação de não conseguir seguir nem as simples dicas básicas de internet para ajudar a resolver nossos problemas. O que acaba por aumentar a nossa ansiedade. 

mudas de plantas bem pequenas crescendo

Mas como resolver o problema? Pode ser um começo resistir a tentação da sensação de resoluções rápidas, dos conselhos e reflexões genéricas e partir para algo que ainda que seja mais trabalhoso, como o processo de autoconhecimento, traz benefícios de longo prazo. Cada pessoa possui uma história de vida única, suas experiências e suas percepções sobre a vida são diferentes, e é no processo de autoconhecimento que podemos de fato aprender o que faz mais sentido para nossa experiência e para aquilo em que buscamos. Já adiantando, que, infelizmente, para nossa vida em aceleração, esse processo não é rápido nem é simples ou prático, mas é uma aposta de efeitos mais duradouros.


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